Impaciência. Ansiedade. Inércia. Tiques
nos olhos. Pernas balançando nervosamente. Badalar de relógios. Espera na fila.
Espera por filmes. Espera para começarem as aulas. Espera para acabarem as
aulas. Espera para chegar a noite. Espera para começar o dia. Diziam às vezes
que a paciência não é uma virtude e Alice concordava veemente com isso, afinal,
era do tipo que não tinha muitas virtudes.
Certa vez o tédio era tanto que se
pegou sozinha com duas janelas, esperando o tempo correr. Eram apenas duas janelas
retangulares, lado a lado. Não deixavam passar o tempo e não deixavam passar o
ar, quebravam sonhos e devaneios. Eram apenas duas janelas, talvez malignas num
momento entediante, mas apenas duas janelas. O tempo era lento de toda forma.
Ao fazer quinze anos decidiu esperar
uma mudança acontecer na vida, algo que a tornasse diferente de uma lesma
catatônica em estado inerte. A permanência era irritante, mas não tanto quanto
a perspectiva não consumada da metamorfose. Cansou-se de esperar. Não mudou.
O sinal vermelho era um exercício
mental diário, treinamento da não-virtude paciência. O verde seguia, mas não
necessariamente em frente. O amarelo era expectativa e, portanto, doloroso;
tarde demais para prosseguir e cedo demais para parar. A partir de quantos anos
se é permitido olhar para trás e se arrepender do que não fez, mesmo? Passou
tempo demais esperando a resposta. Deve ter chegado à idade.
Esperava uma finalização marcante, mas
surpreendentemente algumas coisas na vida surgem de surpresa e encerramentos
costumam ser difíceis quando não se deixou muito para se finalizar. O fim foi
mais ou menos como a vida, cheio de esperanças não correspondidas, afinal, ao
contrário do tempo, o mundo não desacelera na presença da morte.
Posso estar tremendamente enganada, mas acho que esse texto foi apresentado no primeiro período, aula de Normanda. O conto é muito bom. Parabéns. :)
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