quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013


Então ela sentiu uma vontade de sair correndo e gritando como se estivesse num sonho daqueles em que se fica nu e quando percebe não se consegue voltar pra casa. Ela jurou que era plena e se sentiu além mulher, além vento, além gente, e pode finalmente transcender.

Transcendeu atropelada por um carro e pela vida, foi julgada inconsequente, foi manchete de jornal e letra de música vadia. Sentir é difícil, mas não devia. Ela sentia e só. Tem gente que dá mais valor ao sentido do poeta, aquele sentido que se registra. Ela queria sentir aquilo que só se sente e que não se escreve. Esqueceu todas as palavras que são duras e não sentem. Teve pena das palavras e da prisão que estava aprisionada com medo de repetir prefixos, errar sinônimos, confundir figuras, esquecer vírgulas. As palavras que são presas em si mesmas e prendem todo mundo na semântica. A língua da vida é outra.

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