Lembro de um dia, quando era criança
eu brincava no pátio do prédio e vi uma pessoa passando na calçada
ela olhou na minha direção e continuou andando.
Acho que foi a primeira vez que pensei que aquele era só mais um prédio numa rua qualquer
e eu era só mais uma criança
nem mais, nem menos importante que nenhuma outra.
Pensei nisso por um tempo e voltei a fazer o que fazia antes.
Mas comecei a olhar os outros prédios e as outras crianças de um jeito diferente
Me perguntando se elas pensavam como eu pensava antes ou depois de ver aquela pessoa passando
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
Nossos pais
Adoro a cordialidade dos pais em ligar pra perguntar - no meio de um dia cheio de brigas repetitivas, estágio, faculdade, calor pegajoso, 4 horas dentro do ônibus - "filha, almoçou direitinho?"
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
Lost no blog
Muito feliz por finalmente ter um blog, decidi mandar por e-mail pros meus pais um fruto concreto de trabalho:
"pai e mãe, depois de dois anos de faculdade e muita pesquisa, o blog meu e do pessoal mais próximo de jornalismo está pronto pra exibição. ele beira a genialidade, a tragedicidade, a comicidade, a simplicidade e vários outros "dades" em vários e alguns momentos. faço um intertexto com uma das minhas séries favoritas da hbo e digo que ele é a voz da nossa geração, ou pelo menos uma voz de uma geração. beijos"
E seguia o link desta maravilha internética.
Obtive um única resposta:
"Meu filho, os textos estão muito bons, mas acho melhor você procurar um analista. Sério, sem preconceito. Tá todo mundo meio perdido ali, não acha, não?"
Saí perdido.
são longuinhos
- Procure direito
- Mas mãe, eu já olhei em todos os cantos e não achei
Aí ela foi lá e também não achou.
Mistério, pelo Dicionário Michaelis, é sinônimo de para onde vão as coisas que nem as mães conseguem achar. Não é isso que o dicionário diz, mas bem que poderia dizer.
- Tá vendo que procurei?
- Como pode ter sumido?
A mãe ignora a filha que procura e admite o que antes era inconcebível, o sumiço.
Os cantos da casa que somem com as coisas são os piores inimigos das famílias. As chaves comemoram juntas no chaveiro de metal o palavrão da mãe. Os celulares vibram de prazer. As havaianas, malvadas, fazem duetos. As canetas desenham Van Gogh, extasiadas. Os cantos engolem a casa.
A vida é que nos engole e faz festa quando a gente procuraprocuraprocura e não acha. Quando o eu se perde do eu... Não dá pra chamar a mãe pra achar o eu do eu. Nem a mãe achou a mãe da mãe. E vai ver a vida é só uma procura em que a gente esquece o que tá procurando no meio do caminho.
Então ela sentiu uma vontade de sair correndo e gritando como se estivesse num sonho daqueles em que se fica nu e quando percebe não se consegue voltar pra casa. Ela jurou que era plena e se sentiu além mulher, além vento, além gente, e pode finalmente transcender.
Transcendeu atropelada por um carro e pela vida, foi julgada inconsequente, foi manchete de jornal e letra de música vadia. Sentir é difícil, mas não devia. Ela sentia e só. Tem gente que dá mais valor ao sentido do poeta, aquele sentido que se registra. Ela queria sentir aquilo que só se sente e que não se escreve. Esqueceu todas as palavras que são duras e não sentem. Teve pena das palavras e da prisão que estava aprisionada com medo de repetir prefixos, errar sinônimos, confundir figuras, esquecer vírgulas. As palavras que são presas em si mesmas e prendem todo mundo na semântica. A língua da vida é outra.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Se a velha sensação de insatisfação bate em diferentes momentos da sua vida, sempre resta a dúvida: nada mudou ou só as coisas erradas mudaram? Talvez a gente sempre procure sem saber o que procura e sempre ache as coisas que a gente não procurava mesmo sem saber, daí a gente nunca acha as coisas na hora certa, só quando é tarde demais e você já tá procurando outra coisa que você nem sabe ainda.
Até hoje eu não sei nem o que achei e nem o que tô procurando.
Até hoje eu não sei nem o que achei e nem o que tô procurando.
Azul
No caminho de volta pra casa, lembro que já devo ter comprado pelo menos uns 3 sapatos no mesmo tom de azul. Consumo inconsciente, provavelmente por causa do poema de Carlos Azul Pena Filho.
(Então pintei de azul os meus sapatos
Por não poder de azul pintar as ruas
Depois vesti meus gesto insensatos
E colori as minhas mãos e as tuas)
Às vezes a poesia se esconde na gente. É brega de falar. Relutei pra admitir. No caminho de volta pra casa, pensei em todas as poesias que podem estar escondidas na gente, latente. Um monte de coisa ruim e sem nexo, talvez.
No caminho de volta pra casa, pensei que o cansaço que a gente sente não é físico, como pode ser cansaço da alma. A gente tem que tirar a gordura da alma. Tudo o que sobra. Dizem que faz mal.
Tirar a gordura trans e deixar só a do bem. A poesia gordinha.
(Então pintei de azul os meus sapatos
Por não poder de azul pintar as ruas
Depois vesti meus gesto insensatos
E colori as minhas mãos e as tuas)
Às vezes a poesia se esconde na gente. É brega de falar. Relutei pra admitir. No caminho de volta pra casa, pensei em todas as poesias que podem estar escondidas na gente, latente. Um monte de coisa ruim e sem nexo, talvez.
No caminho de volta pra casa, pensei que o cansaço que a gente sente não é físico, como pode ser cansaço da alma. A gente tem que tirar a gordura da alma. Tudo o que sobra. Dizem que faz mal.
Tirar a gordura trans e deixar só a do bem. A poesia gordinha.
Davi do ônibus
Um homem entrou no ônibus e disse
que seu nome era Davi.
Falava, mas não pedia dinheiro.
"Meu nome é Davi.
Meu nome é como uma roupa que caiu bem.
Quer dizer amado por Deus.
Mas isso não quer dizer
que Deus me ama mais
do que ama vocês."
Quem seria ele antes de ser Davi do ônibus?
Poesia da life
10 anos depois
todo mundo num cruzeiro
brindando com champagne
num reencontro de fim de novela
usando vestido branco
e sorrindo de perfil pra câmera
todo mundo num cruzeiro
brindando com champagne
num reencontro de fim de novela
usando vestido branco
e sorrindo de perfil pra câmera
domingo, 17 de fevereiro de 2013
É legal ver um filme e ficar triste porque o filme é triste e sair lendo um monte de texto antigo e postar tudo no blog dos amigos e começar a vomitar um monte de coisa na sua própria cabeça porque alguma coisa mudou mas continuou igual e mesmo assim nesse momento não cabe vírgula. só ponto. beijos.
O tempo de Alice
Impaciência. Ansiedade. Inércia. Tiques
nos olhos. Pernas balançando nervosamente. Badalar de relógios. Espera na fila.
Espera por filmes. Espera para começarem as aulas. Espera para acabarem as
aulas. Espera para chegar a noite. Espera para começar o dia. Diziam às vezes
que a paciência não é uma virtude e Alice concordava veemente com isso, afinal,
era do tipo que não tinha muitas virtudes.
Certa vez o tédio era tanto que se
pegou sozinha com duas janelas, esperando o tempo correr. Eram apenas duas janelas
retangulares, lado a lado. Não deixavam passar o tempo e não deixavam passar o
ar, quebravam sonhos e devaneios. Eram apenas duas janelas, talvez malignas num
momento entediante, mas apenas duas janelas. O tempo era lento de toda forma.
Ao fazer quinze anos decidiu esperar
uma mudança acontecer na vida, algo que a tornasse diferente de uma lesma
catatônica em estado inerte. A permanência era irritante, mas não tanto quanto
a perspectiva não consumada da metamorfose. Cansou-se de esperar. Não mudou.
O sinal vermelho era um exercício
mental diário, treinamento da não-virtude paciência. O verde seguia, mas não
necessariamente em frente. O amarelo era expectativa e, portanto, doloroso;
tarde demais para prosseguir e cedo demais para parar. A partir de quantos anos
se é permitido olhar para trás e se arrepender do que não fez, mesmo? Passou
tempo demais esperando a resposta. Deve ter chegado à idade.
Esperava uma finalização marcante, mas
surpreendentemente algumas coisas na vida surgem de surpresa e encerramentos
costumam ser difíceis quando não se deixou muito para se finalizar. O fim foi
mais ou menos como a vida, cheio de esperanças não correspondidas, afinal, ao
contrário do tempo, o mundo não desacelera na presença da morte.
Um texto chato sobre o início fadado a acabar das impressões de um calouro no curso de comunicação
Neste domingo nostálgico, percebi que meu curso já começou acabado. Encontrei este texto lindo que mostra minha motivação com o curso, ainda no segundo período. Agora, como aluno sem período a sensação de inércia é maior. Segue o tédio:
SOBRE O PAPEL SOCIAL DA MÍDIA
“Conscientizar”. “Informar”. “Educar”. São os três verbos-chave que parecem formar a
noção idealista em estudantes de comunicação sobre o papel social da mídia;
“Transportar os discursos de pensadores e os sistemas filosóficos acadêmicos
para o senso comum” é o que parece vir de bônus. Não é surpresa (para não dizer
ser um clichê), que se a mídia tinha tal objetivo utópico a ser seguido, sua
história acarretou num fracasso quase absoluto. Talvez eclipsados pelos
interesses privados e públicos, que hoje parecem ser um só, os meios de
comunicação terminaram se transformando numa espécie de instrumento de
manutenção do sistema vigente: algo que, se sim, educa, informa e conscientiza,
o faz de forma, no mínimo, pouco radical. É um “si, pero no mucho”. Como um noticiário
que ensina a reciclar, mas não aponta os meios de produção como insustentáveis
ou um jornal que muda sua pauta sobre acidentes em estradas para não perder a
parceria com a concessionária que anuncia no seu espaço publicitário. Talvez
não seja necessário falar sobre as distorções na camada mais básica do
jornalismo: como os famosos casos de repórteres que não confirmam suas fontes e
arruínam carreiras e vidas por causa de seus erros ou as vezes em que notícias
são amplamente manipuladas para atender os interesses de algum grupo; mas, de
toda forma, sejam numa camada mais micro ou macroestrutural, vale relembrar que
as distorções existem.
Para Habermas, o processo de
ascendência do sistema capitalista fez com que a mídia perdesse o caráter
libertador que incentivou a população francesa a derrubar monarquias, na medida
em que era colonizada pelos interesses privados e tornava a sociedade cada vez
mais desencantada com o mundo que se tornava maior, aumentando, continuamente,
a sensação de impotência da população. Seu colega frankfurtiano, Adorno, foi
além e afirmou que na busca por conquistar maior público, a mídia tendia a
desenvolver um caráter de maior entretenimento e
passaria a “espetacularizar” muito do que ainda havia de informativo (e sério)
em sua época. Falta de fé ou não, foi, de fato, o que aconteceu com a grande
mídia.
Para mim, uma imagem resume
coerentemente as grandes mídias atuais: um comercial de margarina, com uma
família bonita, numa casa de campo, uma música suave e muitos sorrisos no
rosto. É o conjunto de idéias que noticiários, novelas e outras formas do que
hoje se têm como propagandas carregam em suas mensagens. É o objetivo central
da mídia que foi alterado: a libertação se tornou tornar agradável. Tornar
agradável um sistema de vida que, no caminho que vai pra frente, pode apenas
dar uma falsa ilusão de que as coisas estão, de fato, caminhando, quando, em
outra mão, se aprofunda nos interesses e poderes dos que nada querem mudar.
Assim, do comercial de margarina para os três verbos nas bocas dos estudantes
de jornalismo existe muito caminho pela frente. Ou, pensando bem, para as
origens.
sábado, 16 de fevereiro de 2013
Coronária que espasma
Espasmo na coronária. Dor no coração.
Ouve-se: Pergunta pra tua médica se causou dano e se tem como reverter.
Retruca-se: Reverter o dano no coração, dá não.
(Re)retruca-se: Mas tem que parar de sofrer. Pergunta como faz pra parar de sofrer.
O desespero indicava que a conversa não era mais sobre a coronária. Passou pr'alma.
Agora, dá pra parar de sofrer, mas não pra reverter o dano.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Morando Sozinha Sete Dias
Talvez eu não entenda, mas morar sozinho ou passar sete dias sem
dividir um espaço de intimidade com alguém pode servir como pretexto
para escrever a primeira vez aqui. A vida em casa sozinha não é difícil.
Preparar comida congelada. Queimar comida congelada. Abrir uma lata de
leite moça só pra satisfazer um desejo primitivo de suprir algo que
ainda não descobri, finjo desconhecer. A rotina se torna sem sentido
quando não se tem para quem preparar uma refeição. Quando não se tem com
quem dividir a cama, o sofá, o banheiro. É igualmente difícil viver com
pessoas e seus defeitos habituais, pessoas que se repetem da mesma
maneira. Mas se não existe graça em preparar um prato que só eu vou
julgar ou forrar uma cama em que só eu vou dormir e vê-la desarrumada, o
que mais devo querer quando sinto a obrigação do retorno à minha vida
compartilhada? Acho que tenho que me satisfazer com ambas situações pra
conseguir viver um pouco da felicidade que existe em mim e no outro (que
também é parte de mim). Não chorarei bobagens. Pior que estar sozinha
durante sete longos dias na minha própria rotina é vê-la tão ausente de
si própria.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
A gente deveria ter um cachorro
Tem um cara que tem um poema que acho lindo e que vou escrever aqui com todas as pausas
"Sem chance de ajuda
há um lugar no coração que
nunca será preenchido
um espaço
e mesmo nos melhores momentos
e
nos melhores
tempos
nós saberemos
nós saberemos
mais que
nunca
há um lugar no coração que nunca será preenchido
e
nós iremos esperar
e
esperar
nesse
lugar."
Foi no meio de um aula irreal de Realidade social econômica cultural brasileira que Daniel olhou pra mim e falou que Bukowski só dizia isso porque ele não tinha um cachorrinho.
Talvez o amor seja tudo aquilo que nós dissemos que não era
Nada mais bonito que descobrir que a pessoa amada levou
sem avisar
um livro
que ela mesmo deu
chamado O amor é tudo aquilo que nós dissemos que não era
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