Talvez eu não entenda, mas morar sozinho ou passar sete dias sem
dividir um espaço de intimidade com alguém pode servir como pretexto
para escrever a primeira vez aqui. A vida em casa sozinha não é difícil.
Preparar comida congelada. Queimar comida congelada. Abrir uma lata de
leite moça só pra satisfazer um desejo primitivo de suprir algo que
ainda não descobri, finjo desconhecer. A rotina se torna sem sentido
quando não se tem para quem preparar uma refeição. Quando não se tem com
quem dividir a cama, o sofá, o banheiro. É igualmente difícil viver com
pessoas e seus defeitos habituais, pessoas que se repetem da mesma
maneira. Mas se não existe graça em preparar um prato que só eu vou
julgar ou forrar uma cama em que só eu vou dormir e vê-la desarrumada, o
que mais devo querer quando sinto a obrigação do retorno à minha vida
compartilhada? Acho que tenho que me satisfazer com ambas situações pra
conseguir viver um pouco da felicidade que existe em mim e no outro (que
também é parte de mim). Não chorarei bobagens. Pior que estar sozinha
durante sete longos dias na minha própria rotina é vê-la tão ausente de
si própria.
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